sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Todos somos Guarani Kaiowá ou podemos ser um dia



“Acordei cedo, trabalhei, encontrei amigos, voltei para a casa e dormi. No dia seguinte, acordei mais cedo ainda, porque me acordaram! Invadiram minha casa, saquearam meu espaço, macularam minha terra e minha cultura. Levaram tudo que eu tinha!
Fiquei somente com os meus e com meu lar, com minha terra. Junto com os meus, ergui a cabeça e começamos! Recomeçamos. Começamos um dia após o outro, apesar de toda perseguição que sofríamos.

Agora, não bastando levar tudo que tínhamos, querem nos expulsar daqui. Querem nossa terra e querem nosso sangue. Sim, o nosso sangue! Pois não temos mais nada além de nossa terra e o sangue de nossas vidas! Um está atrelado ao outro, pois nessa terra bate o nosso coração e é dela que vem a nossa vida.

Foi dela que nascemos e já que vivos não conseguimos ficar aqui, quem sabe mortos possamos. Que ao menos nossos corpos sem vida possam ficar aqui e herdar a terra dos nossos antepassados que um dia foi nossa.

Os meus já não são muitos! Muitos se foram antes de serem expulsos como eu estou sendo agora! Seus corpos estão aqui! Alguns ainda procuramos. Eles se foram por suas próprias mãos, não por vontade sua apenas! Outros se foram por mãos de outros!
Hoje não acordei, afinal, sequer dormi! Não poderíamos dormir! O risco é diário e toda hora. Estamos acordados e em vigília. O que nos resta é o pouco de nós que restou! Não estamos nos entregando! Não somos covardes, afinal, não há covardia maior do que a situação que estamos vivendo. Resistiremos aqui até o fim!”

Essa poderia ser a minha realidade, esse relato poderia seu meu de fato, embora eu tenho escrito ele, o texto não é sobre mim, é sobre a situação dos Guaranis-Kaiowá. É nossa situação! Não poderia dizer que é fictício! Escrevi o relato me imaginando como um deles de fato, imaginando que eu estivesse sendo expulsa da minha casa e perdendo toda a minha cultura e motivação para vida! Imaginei que me restava poucos irmãos, pois muitos se foram! Imaginei que não tinha saída e que não tinha a quem recorrer.

Imagine que a situação dos Guarani-Kaiowá seja a sua situação! Imagine-se no lugar deles! Imagine-se sem ter a quem recorrer! Imagine-se sem saída!

Conforme dados do Conselho Indigenista Missionário  (CIMI) apontam que em oito anos ocorreram 190 tentativas de assassinato, 176 suicídios e 49 atropelamentos.  

“A cada seis dias, um jovem Guarani Caiová se suicida. Desde 1980, cerca de 1500 tiraram a própria vida. A maioria deles enforcou-se num pé de árvore. Entre as várias causas elencadas pelos pesquisadores está o fato de que, neste período da vida, os jovens precisam formar sua família e as perspectivas de futuro são ou trabalhar na cana de açúcar ou virar mendigos. O futuro, portanto, é um não ser aquilo que se é. Algo que, talvez para muitos deles, seja pior do que a morte”, escreveu a jornalista Eliane Brum, em seu artigo semanal publicado na Revista Época, na última segunda-feira, 22, “Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”.  São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças vivendo precariamente, rodeadas por pistoleiros, em Mato Grosso Sul, à beira de um rio em Iguatemi.

Na carta divulgada por um grupo de 170 indígenas Guarani-Kaiowá, percebemos que eles já não têm mais a quem recorrer. “A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?”, diz trecho da carta.

Eles pedem que ao invés de expulsá-lo da terra, que decretem a sua morte coletiva e os enterrem lá. “Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais”.

Eles vivem ameaçados e cercados por fazendeiros, pistoleiros e pelas vastas plantações de cana de açúcar e soja! De acordo com o CIMI informa que desde 1991, “apenas oito terras indígenas foram homologadas para esses indígenas que compõem o segundo maior povo do país, com 43 mil indivíduos que vivem em terras diminutas”.

Hoje sou Guarani-Kaiowá! Você que ainda não é, pode vir a ser um dia! Você pode ter seus direitos violados e não ter a quem recorrer! Já pensou nisso!?

Enquanto você vive, nossos irmãos Guarani-Kaiowá estão morrendo! Isso é sério! Você já viu em algum meio de comunicação de grande circulação alguma matéria que mostra a situação real desses índios? Eu não vi! Quem já viu!? Eles estão morrendo e serão extintos! Isso é também responsabilidade nossa!

Ajude-nos a chamar atenção do país e a impedir o fim dos Guarani-Kaiowá! Assine e compartilhe essa petição!


Vídeo - Outro Olhar - Denúncia de índios Guarani Kaiowá


Artigo de Eliane Brum, “Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”  

Carta dos Guaranis-Kaiowá e Nota do Cimi

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