quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Cine Sem Tela apresenta programação de setembro com foco no meio ambiente


Durante o mês setembro o Cine Sem Tela traz uma programação focada no Meio Ambiente, com filmes e documentários que apresentam questões cruciais e necessárias para a reflexão sobre os problemas ambientais que enfrenta nosso planeta. As exibições acontecem no Quiosque do Gaúcho, na Praça da 110 Sul, às 20h15, com apresentação de curtas-metragens, seguindo às 20h30, com o longa metragem da semana, e contará com o apoio do Coletivo Jovem de Meio Ambiente do Tocantins.

A primeira sessão do mês de setembro no domingo, 2, o Cine Sem Tela exibirá o filme “Santuário dos Pajés não se move”. O filme se passa no Distrito Federal, e relata um dos casos mais emblemáticos da atualidade sobre a luta pela preservação da cultura e do meio ambiente e da cultura indígena. Onde, para a construção do setor Noroeste o governo quer retirar a comunidade de um território que se tornou um Centro Cerimonial e Espiritual Indígena de representatividade mundial preservando a tradição ancestral dos pajés.

No debate que será realizado depois da exibição do filme contaremos com a presença de Narúbia Werreria que foi coordenadora de Cultura Indígena da Secretaria da Cultura do Estado do Tocantins e é atualmente conselheira de Cultura Indígena do Estado, além da presença de jovens indígenas de várias etnias.

O Santuário dos Pajés é uma área de uso tradicional indígena ancestral Macro-Jê retomada e fundada pela pioneira e candanga Comunidade Tapuya desde o ano de 1957. O Santuário dos Pajés além da abrigar a tradição, os costumes e a cultura da comunidade Tapuya/Fulni-Ô se tornou um Centro Cerimonial e Espiritual Indígena, ponto de referência cultural e espiritual de vários indígenas e de simpatizantes da espiritualidade indígena do Brasil e da América do Sul através de intercâmbios culturais.

A Terra Indígena do Santuário dos Tapuyas está situada na reserva Bananal do bioma do cerrado onde se mantém por muito tempo a tradição ancestral dos pajés, o conhecimentos dos poderes terapêuticos das plantas medicinais, se tornando uma reserva de vida e de contato com a natureza para as futuras gerações.

No dia 9, será exibido o filme “Conflitos das Águas” (Even the Rain), estrelado por Gael García Bernal e com direção de Icíar Bollaín. A história se passa em Cochabamba, na Bolívia, e mostra o trabalho de uma equipe espanhola que vai rodar um filme na região e que esbarra no contexto de uma população que enfrenta o governo, devido ao uso da água, após a eclosão de uma rebelião civil. A frase emblemática do filme é “muitos querem mudar o mundo mas poucos querem mudar a si mesmo”, vale a pena conferir.

Dia 16, o Cine Sem Tela traz para o debate um tema que tem preocupado os brasileiros. A construção da   maior obra de engenharia do país na atualidade, Belo Monte. Com direção de André D'Elia, o documentário “Belo Monte, Anúncio de uma Guerra”, traz depoimentos a favor e contra Belo Monte apontam para um desastre do ponto de vista ambiental.

“Veneno está na mesa” é o quarto filme da programação, dirigido pelo cineasta brasileiro Silvio Tendler, o filme faz parte da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, e alerta sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura brasileira. Após a exibição do filme, no dia 23, será realizado um debate coordenado pelo Coletivo Jovem de Meio Ambiente e recolhidas assinaturas para o abaixo assinado da Campanha.

O filme que fecha a programação do mês de setembro, no dia 30, é “Verdade Inconveniente”, do diretor Davis Guggenheim, que traz uma análise da questão do aquecimento global.

Ainda não temos uma data fechada, mas contaremos com a presença do cineasta francês e Kenavo diretor do filme “Santuário dos Pajés não se move” que não poderá está presente na exibição dia 2 de setembro devido uma viagem que teve que fazer para participar da Feira de Sementes Tradicionais no Xingu.

Filmes:

02/09 - Santuário dos Pajés não se move - Direção: Kenavo e Carlos Saldanha

09/09: Conflito das Águas - Direção: Iciar Bollain

16/09 - Belo Monte Anúncio de uma Guerra Direção: André D'Elia

23/09: Veneno está na mesa - Direção: Silvio Tendler (Serão recolhidas assinaturas para um abaixo assinado)

30/09 - Verdade Inconveniente - Direção: Davis Guggenheim


Por Lorena Dias e Rose Dayanne

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A cúpula dos povos e os povos da cúpula


“Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos,  organizações das sociedade civil e ambientalistas de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental vivenciaram,  nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade”, trecho da Declaração Final Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental - Em defesa dos bens comuns, contra a mercantilização da vida, realizada entre os dias 15 a 22 de junho.

Estou cá a escrever sobre o Povo da Cúpula dos Povos. Sei que escrevo um tiquinho atrasada, mas já me disseram e eu confirmo que: “só escrevo quando dá na telha”. Isso é fato, coisa de aquariana. Preciso de lua, estímulo.

Vi o Brasil e sua cara, seu jeito, trejeitos, cores e sabores. Vi o Brasil e o Mundo em suas dores, lutas, dissabores, desigualdade e tragédias.  Me vi em minhas distrações e atrações, na minha cegueira cotidiana e na sensação de que se pode, ao menos, protestar. Compartilhei sorrisos, gritos de ordem, dores nas costas, calos nos pés, barracas, marmitas, experiências e lutas.

Fiquei uns dias sem celular, internet, e etcs, acampada com quase 11 mil pessoas no Sambódromo do Rio de Janeiro, que não abrigava passistas de escola de samba, mas movimentos de mulheres, indígenas,  negros, agricultores/as familiares e camponeses, povos de comunidades tradicionais, quilombolas, argentinos, bolivianos, hippies, juventudes de vários movimentos, religiões de todo o mundo, mulheres e homens, pessoas conscientes da luta e outras a passeio no Rio.  De tudo um pouco.

Uma convergência total, que jamais vou conseguir expressar em sua totalidade. Participei de Marchas, mobilizações, ocupações, grupos de discussão autogestionados, pintei faixas, cartazes, pintei a cara, o corpo e o cabelo. Distribui comida, organizei fileiras na marchas, pintei lambe-lambes, perdi a voz, conquistei amigos e experiência de vida.

Digo que mudei a vida, não tão radicalmente como necessito, mas começo a perceber a mudança que eu quero para mim e para mundo. É pouco? Sim, é! Mas indignar-se com esse sistema que está aí já é um começo. É como nos disse Chê “Se você é capaz de se indignar diante de uma injustiça, então somos companheiros”. E assim digo que encontrei várias companheiras e companheiros.

Estive na rua com 5 mil mulheres e com 80 mil pessoas. E sabe que a minha mãe queria ver essas ações na televisão para dizer assim “minha filha está lá”, mas isso não aconteceu né mamãe. Isso não passa na televisão. O que minha mãe via na televisão eram os problemas no decorrer da Cúpula, pessoas presas ou desaparecidas, coisas que nem eram verdade. E ela ficava lá perdendo os cabelos de preocupação. Mãe, no acampamento em que eu estava com mais de 3 mil pessoas, deixava meus pertences ali e ia para rua, nada acontecia, tod@s eram responsáveis uns pelos outros.

A grande imprensa não se interessa pelas pautas positivas dos Movimentos Sociais, dos Direitos Humanos. Quando acontece algo de negativo, por exemplo, são capas e mais capas, manchete e mais manchetes. Ou ainda quando querem diminuir ou banalizar as ações. Vi essa manchete em um jornal carioca “Dezenas de mulheres mostram os seios e protestam”  ao invés de “Mais de 5 mil mulheres vão às ruas do Rio protestar”, por exemplo. Quanto mais puderem diminuir o movimento vão fazer.

Logo, ao contrário do que a grande imprensa pinta, vi um povo organizado, venci preconceitos. Sim o Movimento Social é organizado, é autogestionável. Vi isso no acampamento em que estava da Via Campesina, que reuni todos os movimentos oriundos do campo. Tod@s tínhamos funções e tarefas, participávamos de equipes de organização dos acampamentos. Eu, por exemplo, era da equipe de Agitação e Propaganda, assim como outras pessoas da delegação que participavam das equipes de segurança, alimentação, limpeza, etc.


A cúpula
Quando me perguntavam sobre minha ida ao Rio, sempre se referiam ao evento da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20. Afinal, lá em Brejinho de Nazaré, onde vive minha mãe e minha avó, o monopólio da Rede Globo para quem não tem antena parabólica, por exemplo, os chefes de estado passavam na televisão, e assim ficava difícil saber o que “cruzes” era a tal Cúpula dos Povos.

Logo, eu pulava lá atrás e corrigia  “Non Non, não estava na Rio +ou- 20, eu estava na Cúpula dos Povos, por Justiça Social e Ambiental, um evento paralelo que reunia o povo, organizado pela sociedade civil global” .

Nós tínhamos pautas para debater e bandeiras para defender. O papo de economia verde não desce e não desceu. Como disse Marina Silva “não é importa a cor da economia”. Sim a cor da economia não importa, o que é importa são as soluções.

Nossas plenárias foram pautadas por eixos sérios e comprometidos com aquilo em que os movimentos acreditavam.

... Na Plenária 01, que discuti direitos, foram debatidos e agendados ações anti-militarização; por igualdade de gênero dentro das organizações; por liberalização das drogas; contra a criminalização da juventude; por solidariedade com Cuba e Haiti; contra a privatização das sementes. Na Plenária 02, referente à defesa dos bens comuns e contra a mercantilização, envolveu a campanha pela reforma agrária; pela comunicação como bem comum e pela liberdade de expressão. Na a Plenária 03, que tratava da soberania alimentar, foi elaborado,  por exemplo, campanhas pela produção e consumo de alimentos sustentáveis, contra o uso de agrotóxicos e de transgênicos, pela produção de sementes crioulas. Na Plenária 04, em  relação à energia e indústrias extrativas, a Cúpula dos Povos programou campanhas contra o abuso das corporações transnacionais, e pela denúncia de empresas causadores de degradação ambiental e de violação de direitos. A quinta e última Plenária, que tratou de trabalho e economia, construiu campanhas contra o capitalismo e formas de exploração do trabalho, pelos direitos dos trabalhadores e pela reforma do sistema político brasileiros” (trecho retirado do Site da Cúpula).

Referente ao evento “oficial” da Rio +20, nós não vimos avanço. O resultado foi um documento superficial, poucos países comprometidos! Chefes de estado fazendo pouco caso e representatividade nula do povo.  Quais avanços a Rio +ou - 20 trouxe para a transformação social que esperamos do mundo e a emancipação do povo? Economia verde? Isso nem chega a ser solução para a crise financeira que o mundo enfrenta, quiçá para a crise global anunciada e vivenciada pelos povos.

Os resultados
Aqueles dias foram momentos de muito aprendizado, marcaram minha vida. Um espaço para o povo, ali representado pelos movimentos sociais, organizações, coletivos,  expor, praticar e dialogar com a sociedade sobre suas experiências e projetos.
A Cúpula nos mostrou, por meio do acúmulo histórico dos vários movimentos ali representados, que as lutas locais são globais. As lutas das mulheres, por exemplo, são de todas as mulheres e de toda a sociedade, as quais tiveram grande representatividade na Cúpula e espaço para debate e construção de agendas.  “Afirmamos o feminismo como instrumento da construção da igualdade, a autonomia das mulheres sobre seus corpos e sexualidade e o direito a uma vida  livre de violência”, diz o trecho da Declaração Final da Cúpula.
Tivemos uma oportunidade única para tratarmos, enquanto sociedade civil organizada, dos graves problemas enfrentados pela humanidade e demonstrar a força política dos povos organizados. A cúpula não acabou no dia 22 de junho e não acaba, quero tudo de novo, aquele povo, aquela juventude... Agora é conosco. Preciso continuar, precisamos continuar, nos nossos coletivos, movimentos, organizações...  a tarefa é nossa. Nossos desafios são grandes e continuam.

Protestei nas ruas do Rio de Janeiro, com 5 mil mulheres e com 80 mil pessoas, anônima como muit@s, mas consciente da responsabilidade que temos enquanto protagonistas desse processo. “Por um projeto feminista e popular”, por isso, “de pé, continuamos a luta”.

Clique aqui e leia na íntegra o Declaração Final Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental.


Rose Dayanne Santana – Cidadã Brasileira, Jornalista e Militante dos Movimentos Sociais de Juventude, Mulheres e Meio Ambiente.